A pediculose do couro cabeludo é um problema de saúde pública em todo mundo. São múltiplos fatores implicados na disseminação do parasita, com destaque para a irregularidade nos hábitos de higiene corporal, a intimidade do relacionamento no ambiente escolar e a resistência aos agentes habitualmente empregados no tratamento. Outro importante fator de risco é a crescente utilização de creches e instituições coletivas de cuidado a crianças, acompanhando o processo de urbanização e os novos modos de organização familiar que vem ocorrendo no Brasil.
A pediculose do couro cabeludo é uma infeção parasitária que atinge crianças de todos os estratos sociais, não é restrita às comunidades carentes. O piolho da cabeça é resistente a variação de temperatura, deposita seus ovos (lêndeas) próximo as raízes dos cabelos. Um piolho vive em média de quatro a seis semanas, quando põe um total de 100 a 150 ovos. Estes ovos eclodem em torno de sete a nove dias, tornam-se maduros em uma semana e começam seu ciclo parasitário, perfuram a pele do couro cabeludo e sugam o sangue, várias vezes ao dia. No couro cabeludo o parasita prefere as regiões occipital e auricular posterior, onde o prurido é mais intenso, conduzindo as infecções dermatológicas secundárias. O mecanismo de hipersensibilidade que se instala em torno de dez dias após a infestação é responsável pela manifestação clínica. Deve-se suspeitar de pediculose em todo prurido do couro cabeludo, lesões impetiginizadas na região occipital. As crianças infestadas podem apresentar baixo desempenho escolar por dificuldade de concentração e distúrbios de sono. O contagio é direto, pelo convívio com pessoas parasitadas, ou indireto pelo uso de boné, tiaras, toalhas ou roupas de cama.
Alguns mitos têm que ser quebrados:
– Piolhos não voam, podem passar de uma pessoa para outra de várias maneiras, mas voando, não. Também não passam pulando, como pulga. Acredita-se que a principal forma de transmissão dos piolhos de uma pessoa para outra, seja realmente o contato cabeça/cabeça e outras formas indiretas como compartilhar escovas, pentes, boné, travesseiros, etc.
– Lavar a cabeça diariamente em xampus comuns não elimina o piolho. Eles são bastante resistentes à água quente do banho. Cabelo limpo e cheiroso pode sim, ter muitos piolhos.
– Cabelos curtos e lisos facilitam a visualização e catação, mas não reduzem o risco de infestação.
Tratamento tópico
– Deltametrina: apresenta elevado coeficiente de segurança e baixa toxicidade. Possui considerável efeito residual e alto poder letal contra piolhos. O xampu deve ser aplicado no cabelo e couro cabeludo secos, deixar agir por 5 minutos, depois lavar e enxaguar, usar durante 4 dias consecutivos.
– Permetrina: Aplicar xampu no cabelo e couro cabeludo seco, deixar 10 minuto, depois lavar bem e enxaguar. Uma dose única é recomendada, podendo em caso de persistência dos piolhos ser repetida outra aplicação após 7 dias.
– Monossulfiram: Não existe na apresentação xampu, a forma sabonete é utilizada para lavar o cabelo e couro cabeludo, depois enxaguar e aplicar, com uma esponja, a apresentação solução de Monossulfiram previamente diluída (para uma parte de solução juntar 3 vezes mesma quantidade de água). Depois de 8 horas, lavar para remover o líquido aplicado, repetir o tratamento depois de 7 dias.
– Lindano e Benzoato de benzila: estão em desuso, pela elevada frequência de resistências e ocorrências de efeitos adversos.
A principal causa de falha no tratamento não é a resistência aos produtos e sim o tratamento incorreto. Dentre as causas de tratamento inadequado estão: ausência de aderência ao tratamento, o uso improprio do produto e a não retiradas das lêndeas viáveis. Para que o tratamento seja considerado eficaz, a pediculicida deve ser aplicada cuidadosamente, em volume adequado, em duas ocasiões diferentes, com uma semana de intervalo. Os cabelos devem estar secos, o cabelo úmido diminui a eficácia do tratamento. Mais importante que qualquer medicação é a penteação das lêndeas com pente bem fino e a catação dos piolhos. Para facilitar a remoção das lêndeas, pode ser usada uma mistura de vinagre e água em partes iguais, embebendo os cabelos por meia hora antes de proceder a retirada com pente fina ou manualmente. A detecção de piolho vivo após 24 horas de um tratamento adequado sugere resistência ao tratamento. O tratamento deve ser repetido com um pediculicida diferente do utilizado. A ivermectina de uso oral surgiu como opção para os casos resistentes.
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria- 06/01/2016 – Dr. Tadeu Fernando Fernandes