Um grupo de pediatras norte-americanos divulgou no último mês uma declaração acompanhada de um relatório técnico alertando para o perigo da contaminação por químicos liberados em plásticos usados na cozinha, nas embalagens de alimentos e por aditivos usados pela indústria na produção de alimentos ultraprocessados.
Para o grupo, que inclui a Academia Americana de Pediatria, é urgente alertar às famílias e gestantes, para que se protejam com medidas práticas, e também ao governo dos Estados Unidos, para que haja mais rigor na fiscalização e regulação da lista de ingredientes e aditivos atualmente permitidos.
“Evidências científicas crescentes sugerem potenciais efeitos adversos sobre a saúde das crianças a partir de produtos químicos sintéticos usados como aditivos alimentares. A preocupação com esses aditivos aumentou nas últimas duas décadas, em parte devido a estudos que documentam cada vez mais a disrupção endócrina [desordem no funcionamento normal dos hormônios]”, diz o texto do relatório técnico.
“Os hormônios são sinalizadores do corpo. Os disruptores endócrinos são componentes que passam mensagens para o corpo e alteram o eixo endócrino normal – ou seja, alteram a função dos hormônios e podem levar a obesidade, diabetes e até câncer”, explica a nutricionista Lenycia Neri, do Ambulatório do Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas. Ela ainda esclarece que a dose segura desses aditivos é medida segundo a quantidade de quilo de peso corporal. Porém, enquanto um indivíduo adulto tem 60 ou 70 quilos, um feto, bem menor, atinge a dosagem tóxica muito rapidamente. “No mais, seu sistema neuro-endócrino está em formação e qualquer disruptor pode trazer consequências para a vida inteira”, completa.
“O bisfenol A, também conhecido pela sigla BPA, ajuda a tornar o plástico mais firme. Também é usado no interior de latas, para evitar que enferrujem”, diz o pediatra Ary Cardoso, chefe da Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas (SP). “Foi comprovado que ele passa pela placenta. Não se sabe o quanto, mas ele interfere no sistema endócrino e pode provocar alteração de tireoide, de fígado, de peso e de reprodução”, explica.
O relatório lista sete recomendações para que pediatras e o setor de saúde orientem a população. São elas:
1. Priorizar o consumo de frutas e vegetais frescos ou congelados, quando possível.
2. Evitar carnes processadas, especialmente o consumo materno durante a gravidez.
3. Evitar aquecer alimentos ou bebidas no micro-ondas (incluindo fórmulas infantis e leite humano ordenhado) em plástico, se possível.
4. Evitar colocar plásticos na máquina de lavar louça.
5. Usar alternativas ao plástico, como vidro ou aço inoxidável, quando possível.
6. Observar o código de reciclagem na parte inferior dos produtos para encontrar o tipo de plástico. Evitar plásticos com códigos de reciclagem 3 (ftalatos), 6 (estireno) e 7 (bisfenóis), a menos que os plásticos sejam rotulados como “biológicos” ou “verdes”, indicando que eles são feitos de milho e não contêm bisfenóis.
7. Incentivar a lavagem das mãos antes de manusear alimentos e/ou bebidas e lavar todas as frutas e verduras que não podem ser descascadas.
“O que os pediatras dizem é, afinal, exatamente aquilo que o Guia Alimentar para a População Brasileira prega: comer mais alimentos in natura e minimamente processados, evitar o consumo de ultraprocessados e comer comida caseira, feita na cozinha de casa”, completa Lenycia.
O Guia Alimentar para a População Brasileira é um documento oficial encomendado e distribuído pelo Ministério da Saúde que reúne diretrizes para orientar escolhas alimentares saudáveis. O mais recente foi publicado em 2014 e inovou a classificação dos alimentos. No lugar da pirâmide alimentar, o novo guia leva em conta o nível de processamento dos alimentos, que vai do mais saudável – o in natura (frutas, legumes e verduras) -, ao menos saudável, que é o ultraprocessado (alimentos formulados na fábrica com uso de aditivos químicos, como macarrão instantâneo, refrigerantes e bolachas recheadas), passando pelo minimamente processado (arroz, feijão, farinhas, massas secas, tomate pelado) e pelo processado (queijos, pães frescos, conservas, atum e sardinha em lata).
Fonte: Revista Crescer